O Banco Central enviou vários avisos ao governo brasileiro na ata do Copom divulgada nesta terça-feira, após decidir de forma unânime interromper o corte da Selic em 10,5% na última semana. Não há indicações imediatas de novos cortes da taxa Selic, que só ocorrerão após um compromisso claro de convergência da inflação à meta.
Com o abandono do “guidance” na ata, abre-se a possibilidade até mesmo de um aumento da Selic, caso o cenário se deteriore significativamente nos próximos meses. O Copom agora está dependente de dados para definir seus próximos passos, em um ambiente de política monetária desafiador.
A condução da política monetária tornou-se mais complexa com o aumento da estimativa da taxa neutra de juros pelo Banco Central, de 4,5% para 4,75%. Isso indica que a economia brasileira está menos dinâmica ou possui um PIB potencial mais baixo, necessitando de uma Selic mais alta para controlar a inflação rumo à meta de 3%.
O Banco Central apontou várias razões para cessar os cortes de juros na última reunião: incertezas no cenário externo, atividade econômica mais forte no país – especialmente no mercado de trabalho e consumo das famílias – e piora nas expectativas de inflação. Esses fatores exigem “maior cautela” na condução da política monetária, resultando em uma decisão unânime.
Diante disso, espera-se que a Selic permaneça em um patamar contracionista por um período adequado até que as condições econômicas melhorem.
A decisão do Banco Central levantou críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, a quem Lula considera um adversário político. A presença de Campos Neto em um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aumentou a tensão política.
Embora o mercado financeiro veja Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e possível sucessor de Campos Neto, como favorito, a decisão de Lula sobre seu nome ainda não está definida. A irritação de Lula com o fim dos cortes na Selic pode influenciar essa escolha, exigindo de Galípolo independência em relação ao governo e critérios técnicos para suas decisões.
Enquanto Lula não decidir, o mercado financeiro continuará considerando esse fator de risco em suas projeções futuras.