A decisão recente do Banco Central de suspender o ciclo de redução da taxa básica de juros não deve ser vista como motivo de comemoração.
A Selic permanece em um nível elevado de 10,5% ao ano, o que tende a dificultar o acesso ao crédito para consumo e investimento, limitando as possibilidades imediatas de expansão da atividade econômica e da renda.
O aspecto mais significativo da medida do BC foi a preocupação em manter a credibilidade da política de controle da inflação, que tem sido alvo de críticas infundadas por parte de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), gerando incertezas desnecessárias dentro do próprio governo.
Como tem sido sua prática desde o início de seu terceiro mandato, Lula utiliza o presidente do BC, Roberto Campos Neto, como bode expiatório para os desafios gerenciais e as limitações impostas pela realidade econômica, que impedem a realização das promessas otimistas feitas durante a campanha eleitoral.
Esta estratégia torna-se mais arriscada e sem sentido à medida que se aproxima o término da gestão de Campos Neto, que detém apenas um dos nove votos no Comitê de Política Monetária. No próximo ano, indicados pelo governo petista serão maioria no comitê.
A necessidade de interromper a queda da taxa de juros já vinha sendo indicada pelo BC há várias semanas, devido, em parte, à perspectiva de taxas mais altas nos EUA, principal centro financeiro global, e também às recentes flexibilizações nas metas de reequilíbrio fiscal estabelecidas menos de um ano antes.
Nesse contexto, a decisão unânime do Copom na quarta-feira (20) foi crucial, contrastando com a divisão ocorrida na reunião de maio, quando os diretores indicados por Lula votaram pela redução mais agressiva da Selic.
Desta vez, todos os membros endossaram um diagnóstico embasado em técnica e experiência, evitando decisões baseadas em discursos vazios e impulsos. O objetivo é levar a inflação para um patamar civilizado de 3% ao ano, de forma responsável e oportuna.
Qualquer outra postura poderia ser interpretada como cedência às pressões do governo, que ainda defende a tese de que a tolerância com a inflação pode impulsionar o crescimento econômico. Uma abordagem que, sob a gestão de Dilma Rousseff, resultou em uma recessão severa e aumento descontrolado dos preços.
Por enquanto, o BC autônomo protege Lula de suas próprias inclinações, assim como o país do autoritarismo do presidente. Sem essa autonomia, a política monetária estaria tão desacreditada quanto a fiscal, caracterizada por metas voláteis e ajustes oportunistas conforme conveniências momentâneas.
Os riscos não desapareceram completamente, e a mudança de liderança no BC permanece motivo de preocupação. Um governo que ainda está no início corre o risco desnecessário de perder o controle sobre a economia.