O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) renovou suas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em uma entrevista à CBN, Lula afirmou que Campos Neto tem um viés político que, em sua visão, prejudica o país, especialmente no que diz respeito à política de taxas de juros.
“O único ponto desajustado neste momento é o comportamento do Banco Central. Temos um presidente que não demonstra capacidade de autonomia, tem inclinação política e, na minha opinião, trabalha mais para prejudicar do que para ajudar o país”, declarou. “A taxa de juros atual não tem justificativa”, acrescentou.
Desde o início do mandato, houve uma constante discordância em relação à política monetária do BC. Nesta terça-feira, o presidente reiterou suas críticas a Campos Neto, que recentemente se encontrou com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), um aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL).
As declarações contundentes de Lula surgem pouco antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, agendada para esta quarta-feira (19/6). Este comitê é responsável por definir a taxa básica de juros do país, que atualmente está em 10,5%.
Quando questionado se Tarcísio exercia influência sobre as decisões do BC, Lula respondeu sem hesitação. “Ele tem mais influência do que eu. Não foi apenas um encontro casual com Tarcísio; a festa foi organizada pelo governo de São Paulo para ele. Evidentemente, o governador de São Paulo deve estar contente com a taxa de juros de 10,5%”, comparou.
“Estamos prestes a repetir o que aconteceu com [Sergio] Moro? O presidente do BC está disposto a desempenhar o mesmo papel que Moro desempenhou? Estará comprometido com interesses políticos?”, provocou Lula.
Lula reiterou seu apelo por uma redução na taxa de juros, argumentando que o Brasil não pode continuar com uma taxa que ele considera “proibitiva” para investimentos no setor produtivo. “Como podemos convencer empresários a investir se eles têm que enfrentar uma taxa de juros absurda? Precisamos reduzir a taxa de juros para um nível compatível com a inflação”, defendeu.
Novamente, o presidente comparou Roberto Campos Neto com Henrique Meirelles, presidente do BC durante seus primeiros mandatos. “A quem este jovem está realmente subordinado? Como ele pode participar de um evento em São Paulo, quase como candidato a um cargo no governo estadual? Onde está sua autonomia?”, questionou Lula.
Lula também deixou claro que já está considerando a sucessão de Campos Neto. “Eu escolherei um presidente do BC comprometido com o desenvolvimento do país, com controle da inflação, mas também com uma meta de crescimento”, destacou.
“E será alguém maduro, experiente, responsável, que respeite o cargo que ocupa e que não se dobre às pressões do mercado”, concluiu.