A disposição do PT em sabotar seus próprios governos é notável, como o evidencia o contínuo calvário enfrentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O embate entre líderes petistas e defensores de uma política econômica responsável não é novo. Surpreende, porém, não só o esforço para desestabilizar o arcabouço fiscal e a já frágil credibilidade do governo, mas também o ataque público à liderança interna do partido. Haddad, considerado o herdeiro político de Lula e potencial sucessor, vê sua atuação na Fazenda minada por colegas de partido que parecem indiferentes às consequências para o governo, o presidente e o próprio PT. Talvez o motivo desses ataques não resida apenas em divergências econômicas, mas também no peso político que Haddad representa.
O PT é formado por uma vasta gama de correntes internas, desde a majoritária CNB de Lula e José Dirceu até diversas outras como Resistência Socialista, Democracia Socialista e Articulação de Esquerda. Essas divergências internas, embora expressem uma democracia louvável, muitas vezes se silenciam convenientemente diante das decisões de Lula e do comissariado. No entanto, quando se trata de economia, as discordâncias se intensificam. Sob a ambiguidade presidencial, debates públicos necessários se inflamam e vozes importantes dentro do partido não hesitam em agir contra o ministro, o governo e os interesses nacionais.
Recorda-se dos ataques sofridos por Joaquim Levy, ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, cuja tentativa de implementar medidas de austeridade enfrentou resistência dentro do próprio PT, contribuindo para instabilidade política e, eventualmente, para o impeachment de 2016. Se Levy era visto como um estranho no ninho, Haddad, ao contrário, é uma figura potencial dentro do partido. No entanto, enfrenta oposição de lideranças como Gleisi Hoffmann e Rui Costa, que desafiam suas propostas econômicas sem, aparentemente, considerar os danos ao país.
As disputas internas do PT poderiam ser vistas como triviais e até divertidas se não afetassem diretamente a economia nacional. Infelizmente, o Brasil paga o preço quando essas controvérsias atingem seu cerne econômico.
