Não existe um empresariado que fale com uma voz unificada, a não ser quando o governo Lula 3 provoca uma unanimidade entre setores que têm interesses muitas vezes conflitantes, estão em diferentes estágios de expansão e rentabilidade, e dependem em variados graus do poder público.
Foi o caso da Medida Provisória (MP) que alterava regras do sistema tributário, parte da qual foi devolvida pelo Congresso após um repúdio unânime dos mais diversos segmentos da economia e da política. A questão é entender como Lula e seu círculo político mais próximo interpretaram essa “unanimidade”.
Provavelmente, eles a viram como a esperada reação de empresários cujos interesses foram afetados, como renúncias fiscais e benefícios de vários tipos. Empresários que se esforçam para garantir exclusivamente seus interesses, utilizando sua influência no Legislativo de centro-direita.
Tudo isso sem dúvida existe, mas a lição do episódio é mais grave para o governo. Pior do que não ter capacidade política e nem saber lidar com esses “direitos adquiridos” (como a desoneração da folha de pagamentos), o governo Lula 3 inverteu expectativas que já eram pouco entusiasmadas em relação à condução da política econômica e aos rumos do país em geral.
O pano de fundo para a crise da MP é amplo, antigo e desafiador. Trata-se de um processo de décadas de criação de distorções (o famoso país da “meia entrada”, na brilhante definição de Marcos Lisboa) que agravam a situação fiscal, questões tributárias, a dívida pública e impedem a queda de juros – em um ambiente de desordem institucional e perda relativa de poder do Executivo.
Qual é a resposta ou plano que Lula 3 tem para lidar com esse monumental desafio político e econômico? Que capacidade política demonstrou até agora para lidar com a compressão das despesas discricionárias, que o impedirá de governar? Que esforço mostra além de aumentar a receita para sustentar a expansão dos gastos públicos?
O padrão observado nas ações políticas é de improvisação subordinada à necessidade de garantir a popularidade do presidente. O círculo dirigente mais próximo admite sua incompetência quando confessa que não soube “medir a temperatura” antes de provocar um desastre político como a devolução da referida MP.
A tal “unanimidade” dos setores da economia talvez não seja um “divisor de águas” definitivo em termos de apoio ou repúdio político ao governo, e consequente busca por alternativas. Mas é preocupante para Lula 3, considerando o grau de resistência social que o governo não está conseguindo superar. Em política, expectativas frustradas são sinônimos de confiança traída.