O presidente Lula se autoproclamou herói nacional recentemente. No entanto, seus poderes para realizar o impossível foram desafiados nesta última terça-feira (28), quando o Congresso, numa aliança entre partidos do centrão e bolsonaristas, impôs uma série de derrotas ao governo. A incapacidade da articulação política do petista – o governo conseguiu apenas pouco mais de 100 votos na Câmara e cerca de 20 no Senado – deveria sinalizar mudanças tanto na composição do governo quanto na postura de Lula, mas é improvável que algo ocorra.
Lula que derrotou Jair Bolsonaro em 2022 por uma margem apertada de votos, algo que ninguém consegue entender. Ele chegou onde está principalmente com o apoio da extinta frente ampla de partidos que o próprio petismo tratou de desmantelar quando voltou ao poder. Hoje, os aliados eleitorais de Lula estão em má situação em diferentes frentes. O ajuste fiscal, que deveria ser uma vitrine, está em estado crítico. Figuras importantes como Marina Silva e Simone Tebet não encontram espaço nos bastidores controlados pelos petistas. Lula continua cercado pelos mesmos conselheiros de sempre.
Sem disposição para ouvir os aliados de outrora, perdeu interlocutores no MDB, no PSB e em outros partidos que poderiam votar com o governo ocasionalmente. Em outros tempos, seria impensável ver deputados do centrão desafiando o presidente com tanta audácia como ocorreu nesta terça.
O pagamento garantido de emendas parlamentares eliminou o medo que antes existia no Legislativo. Sem a antiga força do toma-lá-dá-cá, Lula deveria operar pela via política, negociando, conquistando apoio e dedicando tempo para cooptar aliados. No entanto, o petista tem sete viagens internacionais planejadas apenas para este segundo semestre. Gastar tempo com deputados e senadores não está em seus planos.
Ele cuidará de tudo, exceto dos assuntos cruciais para o país. Com a popularidade no mesmo patamar de sua rejeição, Lula não consegue nem intimidar aliados menos fiéis, que votaram junto com a oposição nesta terça em questões importantes para o eleitorado, como o fim das saídas temporárias e o veto à criminalização das fake news.
Todos os governos anteriores, em algum momento, sofreram derrotas no Parlamento. O ocorrido nesta terça, há uns dizendo não é o fim do mundo para o petista, mas que deveria servir como um alerta, já outros dizem que não só é o fim do mundo, como é o fim do governo. É hora de ouvir mais os aliados do centro, reconstruir pontes nos partidos da frente democrática que se formou contra Jair Bolsonaro e reduzir a influência da esquerda na agenda do Planalto.