O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em seus últimos meses no cargo, enviou uma mensagem ao seu sucessor. Ele ressaltou que o mais importante é que o novo ocupante da posição saiba “dizer não” tanto ao Executivo quanto ao Legislativo. Em uma entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, Campos Neto defendeu que a indicação do novo presidente ocorra entre setembro e outubro, para que haja tempo para a sabatina pelo Senado, em meio às eleições municipais.
Trechos da Entrevista
Seu mandato está terminando. Que conselho daria ao seu sucessor? A principal recomendação é olhar para o todo, evitando focar nos ruídos de curto prazo, sejam econômicos ou políticos. É fundamental saber dizer não. Muitas propostas e ideias surgem que não são do interesse da sociedade ou do Banco Central. Às vezes, é necessário dizer não tanto ao Executivo quanto ao Legislativo. Ter firmeza para dizer não, capacidade de explicar suas opiniões e transmitir transparência são qualidades cruciais.
Quando o novo presidente do Banco Central deve ser anunciado? Embora a decisão não seja minha, o sucessor precisa se preparar para a sabatina, que deve ocorrer até o final de novembro. Anunciar muito cedo pode inviabilizar a indicação, mas não se deve demorar demais. O ideal seria entre o final de setembro e outubro.
Se o sucessor já fizer parte do colegiado, isso não ajudaria na transição? Estar no Banco Central proporciona conhecimento sobre seu funcionamento, mas a presidência é muito diferente da diretoria. Tive uma transição longa e quem já está na casa tem uma adaptação mais fácil, mas também é necessário tempo para uma visão mais ampla.
Você está tranquilo quanto à continuidade da política monetária com um governo mais à esquerda? Não sei se o mercado é mais desconfiado de certos nomes. O mercado deu um voto de confiança ao presidente Lula e ao novo arcabouço fiscal. O Banco Central é técnico e confio que o trabalho continuará sendo bem feito.
Você tem planos de trabalhar com o governador Tarcísio de Freitas, seja no governo paulista ou em uma possível candidatura presidencial? Ainda não sei o que farei, mas gosto das áreas de finanças e tecnologia, então provavelmente trabalharei com algo que combine as duas. Tenho seis meses de quarentena obrigatória para descansar e pretendo aproveitar esse tempo.
Descarta trabalhar no setor público? Sim, descarto. Não me vejo candidato a nada. Tenho grande admiração por Tarcísio e uma relação próxima com ele, mas meu projeto atual é sair da vida pública e enfrentar novos desafios que envolvam tecnologia e finanças, áreas em que tenho experiência.