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sexta-feira, 11 outubro, 2024
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Sob as águas e sob os holofotes: O jogo sujo da política nas inundações gaúchas

Por Marina B.

As recentes inundações sem precedentes no Rio Grande do Sul mal haviam chegado aos noticiários nacionais, quando já se viu uma corrida dos oportunistas ideológicos para explorar politicamente a tragédia. Influenciadores se apressaram em ocupar as redes sociais, culpando os gaúchos por terem eleito “governadores neoliberais” que advogam pela redução do tamanho do Estado. Políticos de esquerda prontamente associaram a calamidade das chuvas a uma suposta conivência com o negacionismo climático, ligando isso ao fato de Jair Bolsonaro ter obtido mais de 56% dos votos para presidente no Rio Grande do Sul em 2022.

Os ambientalistas também se aproveitaram dessa narrativa e acusaram prefeitos negacionistas de violar leis ambientais. Jornalistas, sem investigação aprofundada, acusaram o atual governador, Eduardo Leite (PSDB), e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), de negligenciarem conscientemente os riscos climáticos. O governo estadual e a prefeitura foram criticados por não terem feito o suficiente para prevenir desastres após as inundações de setembro de 2023, que resultaram na morte de 53 pessoas. O governo federal, para ser justo, também não cumpriu todas as suas promessas: ainda falta repassar um terço dos 500 milhões de reais prometidos ao estado após as chuvas da primavera passada. A justificativa para o atraso é que os municípios precisam comprovar os danos para receber o dinheiro.

Em relação a Porto Alegre, onde o centro histórico está debaixo d’água, houve falta de manutenção no sistema de controle de enchentes, uma responsabilidade que o governo estadual atribui à prefeitura. No entanto, qualquer investimento recente teria apenas mitigado parcialmente os impactos das chuvas intensas que o estado vem enfrentando. O sistema de controle de enchentes da capital foi projetado com base na inundação histórica de 1941 — um padrão que foi superado nos últimos dias. No interior do estado, produtores de leite estão desperdiçando dezenas de milhares de litros diariamente devido à impossibilidade de transporte para as indústrias de laticínios, já que pontes e estradas de acesso foram destruídas pelas chuvas. O que poderia ter sido feito para evitar essa situação?

Pode haver uma má gestão nos investimentos insuficientes em prevenção de enchentes e redução de danos em áreas de risco, mas é um erro atribuir isso ao “negacionismo climático” dos governantes. Não há uma relação direta entre o partido do governador e as catástrofes causadas por eventos climáticos extremos. Seria justo culpar o PT e o PSB pelas inundações no Nordeste em 2022?
O negacionismo só funciona quando é para um lado. No sul a culpa é do Bolsonaro, no nordeste a culpa é de Deus, da natureza. Hipocrisia sem fim!

Além disso, é injusto rotular os gaúchos como negacionistas só porque pouco mais da metade dos eleitores votou em Bolsonaro. Um estudo publicado por pesquisadores da FGV na revista científica Nature em novembro passado mostrou que a correlação entre preferência política e ceticismo em relação ao aquecimento global é amplamente exagerada. Cerca de 91% dos brasileiros acreditam que as mudanças climáticas são causadas pela ação humana. E apenas 56% consideram os efeitos dessas mudanças como negativos. Além disso, a crença nas mudanças climáticas está mais associada a fatores psicológicos do que a ideologias políticas. A correlação existe, mas não é tão significativa estatisticamente.

Atribuir aos gaúchos uma culpa política ou ideológica pela tragédia climática que enfrentam é cientificamente incorreto e moralmente indefensável.
Nesta mesma época estão ocorrendo chuvas intensas com enchentes nas Filipinas, Dubai, Taiwan, Bangladesh. Bolsonaro foi presidente de algum desses lugares? Houve um tempo que esses eventos eram chamados de catástrofes naturais.
Mudanças climáticas e pandemia, a relação entre elas é enorme. Uma já está indo por água abaixo. Talvez a outra seja levada pelas próprias águas.

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