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sábado, 12 outubro, 2024
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Escândalo de milhões: Show de Madonna no Rio põe contribuintes no palco do desperdício

Por Marina B.

A promoção municipal é uma prática já enraizada. Mas surge a questão: quando a prefeitura investe milhões em um show de uma estrela pop, o que sobra para os cidadãos do Rio?
No fim da noite de sábado o saldo foi de muito lixo, muitos assaltos e furtos, pessoas indignadas e envergonhadas pelo o que viram no palco, muitas críticas ao evento, e uma parcela que com o calor subindo pelo corpo em todos os sentidos, ovacionou a imoralidade.

Ao perguntar aos moradores do Complexo do Alemão e do Morro da Providência sobre as necessidades mais urgentes de suas comunidades, a resposta foi clara: saneamento, saúde, educação. Eles não pediram por um teleférico.

Apesar disso, o governo do Rio de Janeiro construiu um teleférico a custos exorbitantes, que funcionou durante a Copa e as Olimpíadas, mas está parado desde 2016, deteriorando-se. Ele se tornou um símbolo silencioso da corrupção, do planejamento inadequado e da arrogância dos poderosos da cidade, que buscavam se destacar diante de um público internacional, ignorando as preocupações reais dos cariocas.

Agora, Madonna se apresentou em Copacabana, coincidentemente no mesmo ano em que um novo prefeito será eleito, e grande parte da população espera por um novo. Eduardo Paes, que já deu, visa a reeleição e personifica o Rio: mais do que um prefeito, ele é um mestre da festa, mantendo a cidade animada. Parafraseando a famosa expressão do ex-prefeito de Berlim Klaus Wowereit sobre a capital alemã – “pobre, mas sexy” –, pode-se dizer do Rio: sujo, problemático, caro, mas ainda assim divertido.
Cabe aí a expressão pão e circo, que depois do show da Madonna, virou pão e sexo, o que hoje parece deixar o cidadão muito mais animado, do que ir a um espetáculo circense.
Entre palhaços, mágicos e sexo explícito, a prefeitura e o governo fizeram a escolha da segunda opção, dando ao povo carioca essa mega diversão. Houve um tempo que sexo oral, masturbação, suruba, beijo grego e outras “coisitas”, eram práticas proibidas em público. Parece que hoje não mais.
No carnaval de 2019, o então presidente Bolsonaro criticou a cena que um casal gay protagonizou em público. Em plena luz do dia e em cima de uma banca de jornal, eles fizeram uma golden shower (ato de urinar no parceiro durante o ato sexual), na cena pública um urina na cabeça do outro. Mas o estranho é que os defensores da obscenidade, criticaram o ex-presidente por expor a cena nas redes sociais, esquecendo que ela aconteceu de fato e que muitas pessoas assistiram chocados, ao vivo e a cores.

O custoso polimento de imagem

A ideia de marketing municipal remonta ao final do século 19, quando cidades começaram a promover campanhas de imagem. Com a ascensão do turismo nas décadas de 1920 e 1930, os centros urbanos americanos se vendiam como destinos desejáveis, competindo entre si por visitantes.

Hoje, o marketing é uma ferramenta utilizada por cidades de todo o mundo para se destacarem como destinos imperdíveis, não apenas para turistas, mas também para investidores e talentos. Pode assumir a forma de publicidade tradicional, eventos, programas culturais ou investimentos em infraestrutura pública. Nos melhores casos, não é apenas sobre promover a imagem da cidade, mas também sobre melhorar a qualidade de vida dos habitantes e impulsionar um desenvolvimento sustentável.

No Rio, mais uma vez, esses dois últimos aspectos ficam em segundo plano. No dia 4 de maio, esperava-se que 1,5 milhão de pessoas comparecessem ao show de duas horas da estrela pop em Copacabana. No entanto, como é típico na cidade, havia grandes expectativas, de que seria um show incrível, com muito brilho, mas pouco impacto tangível.

Além disso, vale lembrar que o município e o estado do Rio de Janeiro desembolsaram R$ 10 milhões cada para os produtores do show – que, além disso, ainda fecharam contratos de patrocínio com o Itaú e a Heineken.

Quem se beneficia com o show da Madonna?

Surge então a pergunta: não seria possível realizar o evento sem utilizar recursos públicos e apenas com financiamento privado? Os cofres públicos terão que arcar com os custos da limpeza de toneladas de lixo e com um grande esquema de segurança, que mesmo assim não impediu os roubos.

As administrações de Eduardo Paes e Cláudio Castro justificaram os gastos antecipando os quase R$ 300 milhões que os turistas gastariam em voos, hotéis, alimentação e transporte.

A conta não está errada: além do aumento do faturamento para a economia local, o show da Madonna também recebeu ampla cobertura midiática internacional, colocando o Rio nas manchetes. Mas diante do que foi apresentado, um show apelativo e promíscuo, que tinha a expectativa de criar memórias duradouras como o show dos Rolling Stones em Copacabana em 2006, criou o que? Qual o legado? Que sexo é para ser feito com qualquer um independente do gênero, da hora, do local? Eduardo Paes quer transformar o Rio em Sodoma e Gomorra?

No entanto, são os investimentos públicos que possibilitam lucros privados. A Globo, por exemplo, embolsará R$ 50 milhões em publicidade. E estima-se que Madonna, com seu vasto patrimônio, ganhou 9,2 milhões de dólares com a apresentação.

Portanto, é justo questionar quem realmente se beneficiou com esse megaevento financiado com dinheiro público, e o que resta para o bem comum. Os milhões dos contribuintes são realmente um investimento na cidade, gerando valor agregado, ou apenas uma despesa luxuosa para que os poderosos possam se embelezar sem enfrentar os problemas reais da população?

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