O governo tem até o final deste mês para usar cerca de 145 mil vacinas da dengue em seis estados. Estas vacinas fazem parte de um lote de 668 mil doses adquiridas pelo Ministério da Saúde, com data de validade até 30 de abril. Destinadas a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos – o grupo prioritário do governo federal, uma vez que registra a maior proporção de internações devido à doença – estas vacinas precisam ser utilizadas antes de expirar.
Para evitar o desperdício dessas doses, a ministra Nísia Trindade anunciou no final de março a redistribuição das vacinas não utilizadas para outros municípios em nove estados, dentro das próprias unidades da federação. No entanto, a adesão não tem sido suficiente para utilizar toda a quantidade de vacinas disponíveis.
No Amapá, por exemplo, das 22.376 doses prestes a vencer recebidas no início do mês, apenas cerca de mil foram aplicadas, de acordo com dados preliminares da Secretaria de Saúde. Além do Amapá, outros oito estados participaram da redistribuição das doses que vencem em abril. Entre eles estão Goiás, Bahia, São Paulo, Amazonas e Paraíba, cada um com sua parcela de doses pendentes de aplicação.
Até o momento, o ministério está confiante de que todas as doses serão aplicadas a tempo e não possui um plano alternativo para lidar com um possível desperdício. No entanto, o atraso no registro das doses aplicadas nos municípios pode distorcer os números reais de progresso na campanha de vacinação.
Embora haja preocupação com o potencial desperdício, o ministério não considera a possibilidade de usar as doses remanescentes em pessoas fora da faixa etária atualmente visada, uma vez que isso contraria o planejamento da campanha e as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS). A faixa etária atual foi escolhida por concentrar as maiores taxas de hospitalização devido à dengue nos últimos cinco anos no Brasil.
Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, enfatiza a necessidade de intensificar a vacinação nas escolas para evitar perdas. Ela destaca que a imunização nas escolas é a melhor estratégia para a faixa etária alvo.
Embora inicialmente tenha sido considerada a possibilidade de vacinação contra a dengue e outras doenças nas escolas através do Programa Saúde nas Escolas, a iniciativa foi reavaliada devido a episódios de reações alérgicas à vacina. O ministério agora acredita que a imunização deve ser feita de forma assistida, com o devido acompanhamento das reações.