Um levantamento recente do instituto Paraná Pesquisas revela que em 13 dos 27 estados brasileiros, o número de beneficiários do Bolsa Família ainda é maior do que o de trabalhadores com carteira assinada, excluindo o setor público.
Antes da pandemia, em 8 estados essa situação era observada. Contudo, esse número subiu para 10 em 2020, 12 em 2022 com o Auxílio Brasil, e agora, em 2023 e mantendo-se em 2024, são 13 estados onde essa realidade persiste.
Todos os estados do Nordeste e 4 do Norte do país estão nessa condição. O Maranhão se destaca como o estado com a maior dependência do benefício, onde há 641 mil empregos formais e 1,2 milhão de famílias maranhenses recebendo Bolsa Família. Em outras palavras, há 2 beneficiários para cada trabalhador com carteira assinada.
Por outro lado, em Santa Catarina, essa proporção é significativamente menor, com 10 trabalhadores para cada beneficiário do Bolsa Família.
Embora tenha havido uma redução geral nessa proporção no último ano, com queda em 25 estados, o número de beneficiários em relação aos trabalhadores com carteira assinada permaneceu estável no Distrito Federal e em Santa Catarina, onde a proporção já era baixa.
Em janeiro de 2020, antes da pandemia, o Brasil contava com 39,6 milhões de trabalhadores com carteira e 13,2 milhões de beneficiários do Bolsa Família. Esse número de beneficiários aumentou para 14,5 milhões em dezembro de 2021 e foi ampliado para 21,6 milhões em 2022, ano eleitoral, com pelo menos 3 milhões dos 7 milhões de novos beneficiários sendo incluídos nos três meses que antecederam as eleições.
Esse aumento abrupto gerou preocupações entre os economistas sobre a eficácia do programa, mas estudos mostram que o Bolsa Família é altamente focado na população mais necessitada. Em 2022, houve um aumento temporário no valor do benefício, que se tornou permanente com a disputa eleitoral, chegando a R$ 680 em 2023.
Essa expansão do Bolsa Família coincidiu com um enfraquecimento do mercado de trabalho formal, levando a uma proporção de 2 beneficiários para cada emprego com carteira assinada em janeiro de 2023.
No entanto, há um debate entre os economistas sobre o impacto dessa expansão nos mercados de trabalho. Alguns argumentam que o aumento do Bolsa Família pode dinamizar a economia, como indicam os dados recentes de aumento da renda domiciliar per capita e da criação de empregos formais.
Os números da FGV Social mostram um aumento real de 12,5% na renda domiciliar per capita em 2023, acompanhado pela criação de 1,48 milhão de empregos formais no mesmo período. Isso sugere que a transferência de grandes somas pode impulsionar a economia, como evidenciado por estudos realizados no Quênia e mencionados pelo diretor da FGV Social, Marcelo Neri.