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quinta-feira, 3 outubro, 2024
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Ruídos locais e incertezas externas abalam o mercado brasileiro: Vale e Petrobras na corda bamba

Por Alexandre G.

As incertezas globais têm impactado fortemente o mercado de ações brasileiro, mas agora são agravadas por questões locais que têm influenciado de maneira significativa as ações de peso no Ibovespa, como Vale e Petrobras. Como resultado, o desempenho da bolsa brasileira tem ficado aquém de seus pares emergentes, em um ambiente marcado também pela saída significativa de capital estrangeiro.

As incertezas em torno das empresas estatais se somaram a fatores que contribuíram para a retirada de recursos da bolsa brasileira, uma tendência que persiste desde o início do ano. De acordo com os dados mais recentes da B3, os investidores estrangeiros retiraram líquidos R$ 22,19 bilhões do mercado secundário de ações neste ano até 22 de março, o maior volume desde 2020.

Alguns discursos de figuras ligadas ao governo já geravam preocupações desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o primeiro ato concreto que acendeu o sinal de alerta e causou perdas expressivas no mercado foi a falta de pagamento de dividendos extraordinários pela Petrobras. Essa medida surpreendeu grande parte dos investidores – no dia do anúncio, as ações da estatal caíram 10% e resultaram em uma perda de R$ 56 bilhões em valor de mercado. Com isso, o papel preferencial da empresa, que terminou 2023 com alta de 94%, agora recua 4% no acumulado deste ano.

O desempenho das ações brasileiras tem ficado consideravelmente aquém dos pares. Um levantamento do J.P. Morgan destaca que o retorno do MSCI Brasil, em dólares, tem sido o pior de 2024, com perdas em torno de 8%. No mesmo período, o MSCI da China recua 1% e o MSCI de mercados emergentes avança cerca de 2%. Enquanto isso, o S&P 500 exibia alta em torno de 10%.

“Observamos uma saída razoável do mercado de ações desde o início do ano, mas é importante contextualizar, já que, no final do ano passado, vimos um fluxo muito positivo de entrada. O rali do mercado em novembro e dezembro foi muito forte”, observa Luis Fernando Azevedo, gestor de renda variável da Oriz Partners. “Desde o início do ano, a realidade mudou e o mercado percebeu que o ritmo de corte de juros no exterior pode não ser tão intenso quanto se esperava.”

“Aqui, vimos, de certa forma, um ruído envolvendo as estatais, o que trouxe preocupação. Talvez seja um evento mais pontual do que uma mudança de perspectiva para o mercado de maneira mais ampla, mas, obviamente, o investidor estrangeiro que estava mais otimista pode ter sido abalado. É um fator de ruído, de aumento da volatilidade”, afirma Azevedo.

Nesse contexto, a recomendação dos estrategistas do Goldman Sachs para que os investidores apostem contra as estatais brasileiras ganhou destaque no mercado. Na visão dos profissionais do banco americano, os múltiplos das estatais estão elevados em comparação com empresas do setor privado, e possíveis interferências políticas podem resultar em cortes nos ratings dessas empresas.

Renato Jerusalmi, sócio-fundador e gestor de portfólio da Riza Asset, ressalta que os quatro papéis citados pelo Goldman – Petrobras, Banco do Brasil, Sabesp e Cemig – não podem ser agrupados da mesma maneira. Segundo suas análises, apenas o BB está com o menor desconto em relação a seus pares nos últimos dez anos. Enquanto isso, a Petrobras, em comparação com as maiores companhias do setor no mundo, está atualmente com um desconto de 44%, acima da faixa verificada nos últimos cinco anos, que foi entre 30% e 34%.

“Estamos claramente vendo uma intervenção maior na Petrobras. Passamos dos ruídos políticos para um impacto prático, visto na decisão sobre a distribuição dos dividendos”, observa Jerusalmi. “O mercado absorveu isso e ficou mais defensivo, o que contribuiu para continuar a redução do risco no Brasil.”

Prevenida com a interferência política em estatais desde a capitalização bilionária da Petrobras, em 2010, a Rio Bravo Investimentos deixou de adquirir ativos com esse risco, relata Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercados da empresa. “Março foi um mês assustador para a bolsa, com Vale e Petrobras tendo desempenhos ruins devido à tentativa do governo de mexer com grandes empresas. Isso não é bom.”

O gestor acredita que os ruídos em torno de gigantes da B3 também são uma das razões pelas quais o estrangeiro tem se afastado do Brasil. “Acho que não é o único fator, mas certamente ajuda. Cachorro que já foi mordido por cobra tem medo de linguiça”, brinca Buccini.

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