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quarta-feira, 2 outubro, 2024
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Lula culpa todos menos a si mesmo pelo fiasco governamental

Por Alexandre G.

Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma série de reuniões com seu amplo Ministério, reunindo assessores e seu marqueteiro da última campanha eleitoral, Sidônio Palmeira, em busca de responsabilidades pelo fracasso de seu governo. Diversas pesquisas, realizadas por vários institutos e com diferentes públicos, registraram números alarmantes: a popularidade que já não se via nas ruas ou nas redes sociais agora também desapareceu das estatísticas.

Durante as reuniões com seus colaboradores, Lula apontou a imprensa tradicional, que há 15 meses vinha elogiando seu governo, pelo “pessimismo em relação aos rumos da economia”. Utilizou a desculpa comum de que seus ministros não se comunicam bem e, por isso, os brasileiros não conseguem reconhecer nenhuma realização do governo. No entanto, ao mencionar Jair Bolsonaro, o discurso mudou completamente – o balanço da administração transformou-se em uma defesa da democracia contra um suposto golpe.

Do lado de fora do Palácio do Planalto, a reunião foi marcada por uma novidade: pela primeira vez, minutos após ter sido criticada pelo presidente, a imprensa tradicional reagiu. Comentaristas de emissoras de TV e colunistas de jornais expressaram seu descontentamento, afirmando que Lula não deveria ter mencionado Bolsonaro – a quem se referiu como “covardão” – em tal contexto. Alguns colunistas até insinuaram que o presidente tem exagerado em suas viagens ao exterior com a primeira-dama, Janja da Silva, e em seus discursos ideológicos direcionados à “bolha da esquerda”. Os jornais também destacaram que Lula já não conta com a preferência das classes C e D, agora atraídas pela direita conservadora que ele tanto critica.

A conclusão parece óbvia. Não é necessário ser um cientista político para entender que o fracasso precoce de Lula tem uma explicação: seu governo é muito ruim. Isso a sociedade já percebeu, conforme evidenciado pelas pesquisas, mas agora isso está tirando o sono do PT, pois esses dados de pesquisa se tornaram notícia e se espalharam pelas redes sociais.

Há pesquisas para todos os gostos: levantamentos tradicionais sobre a avaliação do governo (Quaest, AtlasIntel e Ipec), questionamentos aos entrevistados sobre se lembram de alguma obra ou programa importante de Lula (Paraná Pesquisas) e até sondagens feitas no mercado financeiro.

Quanto à avaliação da gestão petista, o percentual dos que desaprovam varia de 32% a 41%, conforme os três institutos. Em relação às realizações de Lula, segundo o Paraná Pesquisas, 73% não conseguiram apontar nenhuma. E, no caso do mercado financeiro, 64% dos investidores entrevistados consideram que o governo está indo mal – além de 45% acreditarem que a imagem do Brasil no exterior piorou.

“Rui Costa acha que a queda na popularidade de Lula vem das falhas da comunicação, mas não há marketing capaz de vender um produto ruim – e que parece ter passado do prazo de validade (…) O ministro pode não perceber, mas o culpado pelos problemas de comunicação está no gabinete presidencial, a poucos metros do seu” (Editorial do jornal O Estado de S. Paulo)

Uma cena na reunião de segunda-feira foi ilustrativa: o vice-presidente, Geraldo Alckmin, conhecido pelo tom enfadonho, mandou um bilhete para o chefe da Casa Civil, Rui Costa, recomendando “mais entusiasmo” na apresentação do balanço de 2023. Costa, de fato, estava visivelmente perdido com um grande volume de informações genéricas em suas mãos. Ele abordava tópicos como redução do desemprego, aumento do número de famílias atendidas pelo Bolsa Família, maior participação de profissionais no Mais Médicos e no Farmácia Popular, fortalecimento da agricultura familiar, taxa de desmatamento na Amazônia e novas demarcações de terras indígenas e quilombolas. No momento em que recebeu o bilhete, estava solicitando ajuda a Nísia Trindade, do Ministério da Saúde, pois não sabia como apresentar os dados da pasta dela.

Ficou claro também durante a reunião ministerial a tentativa dos auxiliares de Lula de se esconderem entre as cadeiras. Placas com os nomes foram colocadas na mesa, mas a maioria tentou passar despercebida. No entanto, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, não conseguiu.

Nísia está enfrentando uma crise com a pior epidemia de dengue da história do país. Ela foi a única a ouvir críticas abertas do presidente por seu desempenho insatisfatório. A ministra prometeu vacinas contra a dengue que não foram entregues a tempo; houve um aumento nas mortes de ianomâmis; a resolução do ministério em defesa do aborto causou polêmica; há uma crise na gestão dos hospitais federais no Rio de Janeiro; e ela ainda enfrenta atritos com a Câmara dos Deputados pela distribuição de verbas do ministério para prefeitos aliados.

Diante da cobrança pública, Nísia chorou. Deixou a reunião emocionada e foi consolada por Janja. Segundo relatos da CNN, elas mantêm uma relação próxima, e a primeira-dama não quer que Lula demita mulheres. Três mulheres do primeiro escalão foram demitidas no ano passado: Ana Moser (Esporte), Daniela Carneiro (Turismo) e Rita Serrano, presidente da Caixa Econômica Federal. Todas foram substituídas por homens, o que irritou Janja. A primeira-dama continua participando das reuniões do governo.

Outro ministro que chegou ao Palácio do Planalto sob pressão foi Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública. Amigo de longa data de Lula, ele não foi cobrado publicamente, mas teve que se pronunciar sobre a fuga inédita de criminosos do presídio de segurança máxima de Mossoró (RN). Há 40 dias, Lewandowski não conseguiu achar dois bandidos ligados ao Comando Vermelho, conhecidos como Tatu e Querubim, no pequeno território potiguar. O ministro liderou pessoalmente a operação, reunindo uma tropa de 500 homens, solicitando cães farejadores da polícia de São Paulo, drones e helicópteros. Segundo informações da Polícia Federal, os fugitivos foram vistos pela última vez numa área rural de Baraúna, que possui menos de 30 mil habitantes. No entanto, a equipe de Lewandowski não conseguiu capturá-los.

Orientado pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, Lula alterou sua estratégia após uma série de notícias negativas. No ano anterior, durante períodos difíceis, ele costumava transferir a presidência para Geraldo Alckmin e viajar para o exterior com Janja. Foram 62 dias fora do país, custando cerca de R$ 66 milhões – sem contar os gastos com as aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), cujos valores são sigilosos. Este ano, as viagens para o Egito, Etiópia e Guiana somaram-se a esses custos.

Recentemente, o petista compartilhou um vídeo nas redes sociais no qual aparece correndo no Palácio da Alvorada pela manhã, vestindo trajes de ginástica e uma bermuda do Corinthians. Ele expressou o desejo de viver até os 120 anos. No dia seguinte, novamente vestindo uma camiseta e uma bermuda vermelhas, foi visto alimentando peixes pela manhã. Esta é a terceira vez, desde a campanha eleitoral, que o marqueteiro tenta, após manchetes desanimadoras, mostrar Lula fazendo exercícios, como forma de demonstrar vigor.

Além disso, as viagens ao exterior já não parecem ser um porto seguro. A diplomacia brasileira enfrenta uma fase tumultuada após os comentários de Lula contra Israel – a comparação da luta dos judeus contra os terroristas do Hamas ao Holocausto gerou repercussão internacional. Nesta semana, os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ronaldo Caiado (Goiás), ambos potenciais adversários em 2026, foram recebidos por autoridades israelenses.

Os elogios ao ditador venezuelano Nicolás Maduro e ao russo Vladimir Putin também prejudicaram as relações com países da OTAN e com vizinhos sul-americanos como Argentina e Uruguai. Nos Estados Unidos, além das críticas ao dólar como moeda internacional, a possibilidade de uma vitória de Donald Trump nas próximas eleições também preocupa o Palácio do Planalto.

A estratégia de Lula também teve a Polícia Federal em ação. Mais uma vez, quando surgiram problemas, a polícia trouxe o ex-presidente Jair Bolsonaro para o centro das atenções. Desta vez, ele foi indiciado em uma investigação sobre falsificação de carteirinha de vacinação, que está ligada a uma suposta tentativa de golpe de Estado. O principal informante do esquema seria o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. No entanto, o enredo envolve o uso da carteirinha forjada por Bolsonaro, caso o suposto golpe do 8 de janeiro falhasse. Isso foi o que a mídia noticiou.

O caso Marielle Franco, outro tema recorrente, também voltou à tona. O ministro Lewandowski convocou uma coletiva nesta semana não para revelar o paradeiro de Tatu e Querubim – os fugitivos de Mossoró -, mas para atualizar as investigações sobre o assassinato da vereadora. Segundo ele, o ministro Alexandre de Moraes homologou a delação de Ronnie Lessa, um dos presos, e a Polícia Federal pode estar próxima de concluir o caso. Até a viúva de Marielle, a vereadora Monica Benicio (Psol-RJ), criticou o “espetáculo” midiático.

Lula parece não ter uma estratégia clara para o período até 2026. Não possui uma base sólida no Congresso para aprovar medidas – juntos, PT e seus aliados contam com cerca de cem votos na Câmara. O PT perdeu o controle da comissão mais importante, a de Constituição e Justiça, além de ter menos influência em áreas cruciais como Educação e Segurança Pública. No Senado, o cenário favorece Lula apenas se os interesses coincidirem com os dos ministros do STF. Caso contrário, ele perde, como ocorreu com o fim das “saidinhas” de presos.

O governo também enfrenta dificuldades financeiras. Não há recursos para grandes investimentos, e o PAC 3, que ainda não começou após oito meses, envolve obras que não foram concluídas por governos anteriores devido a questões legais e de corrupção. Lula parece depender cada vez mais do ministro Alexandre de Moraes e da Polícia Federal para se manter no poder. A única saída que lhe resta parece ser focar seus esforços em atacar Jair Bolsonaro e a direita que vem crescendo no país. No entanto, se a opinião pública continuar desfavorável, seu governo pode estar fadado ao fracasso. O barco parece já ter afundado.

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