Investigações apontam desvio de 90% de convênio e pagamentos milionários a ex-dirigentes ligados à Conafer
A Polícia Federal (PF) identificou planilhas de propinas que detalham pagamentos a dirigentes do INSS e agentes políticos, no âmbito de um esquema operado pela Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer). O material foi encaminhado ao ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a prisão preventiva de dez pessoas e expediu 63 mandados de busca e apreensão, cumpridos nesta quinta-feira (13).
Ex-presidente do INSS recebia propina mensal, diz PF
Entre os nomes listados nas planilhas, destaca-se o do ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, identificado nos registros sob o codinome “italiano”. Segundo a PF, ele recebia propina mensal de R$ 250 mil.
A investigação aponta que a Conafer recebeu R$ 708 milhões em repasses do INSS, e que 90% desses valores eram desviados para empresas de fachada e contas de operadores financeiros. O presidente da confederação, Carlos Roberto Ferreira Lopes, alvo de ordem de prisão, não foi localizado.
Pagamentos para “heróis” e “amigos”
De acordo com a PF, o operador financeiro Cícero Marcelino de Souza, também preso, era responsável por coordenar a distribuição dos valores ilícitos. Com ele foram apreendidas planilhas e mensagens que categorizavam beneficiários como “heróis” ou “amigos”, termos usados internamente para se referir aos destinatários da propina.
As movimentações bancárias das empresas ligadas a Cícero coincidem com datas e valores registrados nos documentos apreendidos. A PF afirma que o operador movimentou “centenas de milhões de reais”, repassando parte expressiva a servidores e agentes políticos.
O inquérito também sustenta que Stefanutto recebia os valores por meio de empresas de fachada, incluindo uma pizzaria, e que atuou para assegurar a continuidade dos repasses irregulares à Conafer.
Ex-procurador do INSS recebeu mais de R$ 6,5 milhões
Outro nome central no esquema é o do ex-procurador-chefe do INSS Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, citado nos diálogos como “Herói V”, “Amigo V” ou “Procurador”. A quebra de sigilo bancário indica que ele recebeu R$ 6,57 milhões em propinas entre 2022 e 2024, por meio de empresas ligadas a Cícero.
Durante esse período, segundo a PF, Virgílio atuou para liberar pagamentos do INSS que estavam bloqueados por suspeita de fraude, favorecendo a manutenção do esquema.