Presidente prioriza encontro internacional enquanto tragédia no Paraná deixa mortos e desabrigados
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) optou por não visitar as vítimas do tornado que devastou o município de Rio Bonito do Iguaçu (PR), onde seis pessoas morreram e cerca de mil ficaram desabrigadas, segundo autoridades locais. Em vez disso, o chefe do Executivo viajou à Colômbia para participar da cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), realizada neste domingo (9), na cidade de Santa Marta.
Durante o encontro, Lula criticou os Estados Unidos e expressou apoio indireto ao governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, embora sem citar diretamente o ditador venezuelano ou o presidente americano Donald Trump.
“A ameaça do uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz”, afirmou o presidente brasileiro.
Cúpula esvaziada e críticas veladas
A reunião, que reúne 27 países da União Europeia e 33 da Celac, registrou ausência de diversos líderes, entre eles Ursula von der Leyen (União Europeia), Javier Milei (Argentina), Claudia Sheinbaum (México) e Yamandú Orsi (Uruguai).
O próprio Lula reconheceu o baixo engajamento do evento:
“Nossas cúpulas se tornaram um ritual vazio, do qual se ausentam os líderes regionais”, declarou.
Analistas políticos apontam que o principal objetivo da presença de Lula foi manifestar solidariedade a Maduro em meio à pressão internacional. O governo norte-americano enviou recentemente uma esquadra ao mar do Caribe, incluindo o maior porta-aviões do mundo, com o argumento de combater o narcotráfico. Autoridades dos EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles, organização considerada terrorista.
Em declarações recentes, Lula disse ter conversado com Trump sobre a questão:
“A reunião da Celac só faz sentido se tratarmos da presença dos navios de guerra americanos no Caribe. Disse ao presidente Trump que a América Latina é uma zona de paz.”
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a postura de Lula não afeta as negociações bilaterais com Washington sobre tarifas comerciais:
“Nosso diálogo com os Estados Unidos trata de questões econômicas e tarifárias, não de posicionamentos geopolíticos”, declarou.
Tragédia no Paraná e resposta do governo
Enquanto Lula discursava na Colômbia, o governo federal enviou a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, para representar o presidente em Rio Bonito do Iguaçu, onde o tornado destruiu 90% da cidade. O presidente manifestou solidariedade apenas por meio das redes sociais, dizendo ter “profundo sentimento pelas famílias que perderam seus entes queridos”.
A visita de Gleisi foi amplamente divulgada como ação do “governo do presidente Lula”, seguindo a nova diretriz de comunicação da Secretaria de Comunicação Social (Secom), cujo slogan oficial, lançado em agosto, é “Governo do Brasil — do povo brasileiro”.
Estratégia digital e tom eleitoral
Desde o início de 2024, a Secom tem intensificado o investimento em comunicação digital. Segundo dados oficiais, entre janeiro e outubro foram gastos R$ 69 milhões em publicidade online, um aumento de 110% em relação a 2024. A secretaria também tem contratado influenciadores para ampliar o alcance das mensagens governamentais e atingir públicos que não consomem mídia tradicional.
A viagem de Lula à Colômbia foi de curta duração — oito horas e 55 minutos de voo no total —, com permanência de apenas três horas e meia em Santa Marta. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o presidente discursou por cerca de cinco minutos antes de retornar a Belém (PA), onde participa dos eventos preparatórios da COP30, que ocorrerá entre 10 e 21 de novembro.