A CPMI do INSS entrou oficialmente na fase mais sensível de suas investigações: o núcleo político. A mudança de foco — antes concentrada nos operadores privados e servidores já atingidos por mandados — revela um esquema que, segundo os próprios parlamentares, só alcançou dimensão nacional porque encontrou sustentação dentro da máquina pública. Um duro golpe para o governo Lula, que tenta minimizar o rombo e a crise institucional instalada no órgão.
Entre as novas convocações aprovadas pelo colegiado, está o deputado estadual Edson Cunha de Araújo (PSB-MA), figura central no esquema segundo o senador Izalci Lucas (PL-DF). O parlamentar maranhense não apenas foi alvo de busca e apreensão na nova fase da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, como também é acusado de ameaçar o vice-presidente da CPMI, deputado Duarte Jr. (PSB-MA).
A movimentação atípica de R$ 5,4 milhões, identificada pelo Coaf em contas da Fecopema — entidade presidida por Araújo — levantou o alerta vermelho no colegiado. A CPMI aprovou quebras de sigilos bancário, fiscal e telemático, além de novos pedidos de Relatórios de Inteligência Financeira.
Mais convocações ampliam pressão sobre o governo federal
O pacote de convocações aprovado pela CPMI inclui:
- Daniel Diran, advogado ligado a entidades suspeitas;
- João Camargo, do grupo MKT Connection;
- Rodrigo Rosolem Califoni, empresário do Grupo Total Health;
- Igor Dias Delecrode, ex-presidente da AASAP.
Além deles, quebras de sigilo foram autorizadas para nomes e empresas relacionados a operações financeiras consideradas suspeitas. Federações rurais de ao menos nove Estados também foram incluídas na nova frente de investigação, evidenciando a dimensão nacional do esquema.
Pedidos de prisão expõem gravidade do caso
O relator Alfredo Gaspar (União-AL) pediu a prisão preventiva de Américo Monte, ex-presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios, apontado como peça-chave dos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e estelionato qualificado.
Outro pedido de prisão, o do empresário Danilo Berndt Trento — já indiciado na CPI da Pandemia — só não foi votado porque sua defesa informou que ele irá comparecer espontaneamente ao colegiado.
Segundo a Polícia Federal, Trento atuava em parceria com o ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio de Oliveira Filho, promovendo desvios por meio de descontos fraudulentos sobre aposentadorias, justamente o público mais vulnerável do país.
Nova fase confirma desconforto do governo Lula
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana, foi claro ao anunciar a virada de chave:
“De agora para frente, vamos entrar no chamado núcleo político.”
A frase expõe o incômodo do governo federal, que já enfrenta desgaste com a explosão de denúncias, fraudes bilionárias, descontos indevidos em massa e a suspeita de que entidades historicamente alinhadas ao PT tiveram participação no esquema.
A partir da próxima sessão, não haverá mais acordos: todos os requerimentos irão a voto, deixando explícito, diante dos brasileiros, quem realmente quer investigar e quem tenta blindar aliados.
A CPMI caminha para uma etapa que promete abalar estruturas e aprofundar o desgaste político do governo Lula, que já enfrenta índices crescentes de rejeição e agora se vê pressionado por um dos maiores escândalos envolvendo o INSS nos últimos anos.