As fintechs têm demonstrado preocupação com a estruturação do novo modelo de crédito consignado privado proposto pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Embora a medida seja vista como um avanço importante para democratizar o acesso ao crédito no país, o setor solicita que haja “isonomia competitiva” entre as instituições financeiras que participarão dessa nova modalidade.
Uma das principais críticas das fintechs é o possível favorecimento das instituições que já operam com consignado público e INSS, que podem ter uma vantagem competitiva por já estarem integradas aos sistemas Dataprev e INSS. Sergio Furio, CEO da Creditas, aponta que esses players estariam “um passo à frente” na adaptação ao novo sistema de consignado privado, colocando as fintechs em desvantagem.
De acordo com dados do Banco Central, enquanto 51 instituições realizaram operações de consignado privado, apenas duas fintechs, Agibank e Banco Inter, operaram em todas as três modalidades (privado, público e INSS). Além disso, a maior parte das instituições que atuam no consignado público e INSS são bancos tradicionais, que já possuem acesso à infraestrutura tecnológica que será utilizada no novo modelo, como o e-Social e o FGTS Digital.
A Zetta, associação que representa fintechs e empresas de pagamento, reforça o pedido por um período de “transição” para garantir que todas as instituições possam competir em igualdade de condições. A economista-chefe da associação, Rafaela Nogueira, explica que empresas que já oferecem o consignado público e INSS conseguem testar as novas interfaces e se preparar tecnologicamente para o novo sistema, enquanto as fintechs ainda precisam se adaptar.
As fintechs defendem a necessidade de diálogo com o governo para evitar que a nova modalidade seja implementada de forma a beneficiar apenas aqueles que já têm experiência e acesso aos sistemas do consignado público e INSS. O CEO da Credifit, Eduardo Sorensen, aponta a falta de participação ativa do setor durante o desenvolvimento da proposta e alerta para os desafios que surgem se o projeto for lançado sem que todas as instituições estejam prontas para operar.
O Ministério do Trabalho, por sua vez, afirmou que a proposta ainda está em fase de construção e deve ser enviada ao Congresso em novembro, deixando claro que o texto poderá sofrer modificações pontuais ou integrais durante sua tramitação no Legislativo.
Apesar da expectativa positiva quanto ao potencial do novo consignado privado para ampliar o crédito no Brasil, o setor financeiro aguarda definições para garantir que a medida não crie barreiras adicionais para fintechs, que têm desempenhado papel fundamental na inovação e ampliação da oferta de crédito no país.