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sexta-feira, 14 novembro, 2025
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Comércio mais fraco em setembro reflete crédito caro, endividamento e menos emprego

Por Alexandre Gomes

As vendas no comércio caíram -0,3% em setembro, com resultado negativo em seis de oito setores monitorados; consumo das famílias sentiu impacto da conjuntura

As vendas no comércio tiveram recuo de -0,3% em setembro, comparado ao mês anterior, com resultado negativo em seis dos oito setores monitorados. Segundo especialistas, os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada hoje (13), pelo IBGE, refletem um cenário de crédito ainda caro, com a taxa de juros em alta, e menor geração de emprego. A projeção é de que o varejo oscile perto da estabilidade nos próximos meses.

A variação veio abaixo das projeções do mercado que, apesar do cenário restritivo, esperava que o setor avançasse 0,3%. O dado atual é a quinta queda do segmento nos últimos seis meses, aponta Rafael Perez, economista do Suno Research.

Na comparação trimestral, o recuo foi de 0,4% no 3T25 e de 1,5% no acumulado do ano – bem abaixo dos 4,2% no mesmo período de 2024.

“O conjunto dos dados indica que o consumo de bens teve leve queda no 3T25, em linha com crédito ainda caro e arrefecimento gradual do mercado de trabalho”, avalia Leonardo Costa, economista do ASA.

Rodolfo Margato, economista da XP, segue a mesma linha de avaliação. Ele afirma que o resultado pode refletir estabilização no mercado de trabalho, ainda que a renda real siga em expansão, somada ao maior comprometimento da renda com dívidas.

“O resultado de setembro reforça a leitura de moderação do consumo das famílias, influenciada por renda real ainda estável, crédito mais restritivo e um ambiente de incerteza que reduz a propensão a compras de maior valor, como bens duráveis. A média móvel trimestral negativa (-0,1%) reforça esse quadro”, avalia Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay.

Foco nos números

Seis das oito atividades pesquisadas registraram queda na margem, evidenciando um quadro disseminado de fraqueza, na avaliação de Benedito.

Ela destaca as retrações em livros, jornais e papelaria (-1,6%), tecidos, vestuário e calçados (-1,2%), combustíveis (-0,9%) e informática e comunicação (-0,9%), além do recuo em móveis e eletrodomésticos (-0,5%) e supermercados (-0,2%).

O desempenho positivo se concentrou em artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria (+1,3%) — refletindo maior demanda por medicamentos — e outros artigos de uso pessoal e doméstico (+0,5%). Para Benedito, os resultados são coerentes com o cenário de resiliência em itens de consumo menos cíclico.

Costa observa que o movimento negativo foi amplo e concentrou-se em segmentos sensíveis à renda e crédito: móveis e eletrodomésticos, livros e papelaria, equipamentos de informática, além de tecidos, vestuário e calçados, que seguem voláteis ao longo do ano.

Além disso, veículos e autopeças voltaram a cair e o segmento de material de construção permaneceu fraco, compatível com uma acomodação do setor, avalia o economista do ASA.

Regionalmente, o retrato também foi fraco: 15 das 27 UFs caíram no varejo restrito e 12 no ampliado, com destaques negativos para São Paulo e parte do Sul, reforçando que a fraqueza não é localizada, avalia Costa. Ele aponta que os estados do Norte e Nordeste mostraram resultados mais heterogêneos, mas sem alterar o diagnóstico agregado.

Análise

Na avaliação de Perez, dois movimentos têm atuado dentro do setor nos últimos meses. “Enquanto os segmentos mais dependentes de crédito — como veículos, material de construção e bens duráveis — seguem pressionados pelo patamar elevado das taxas de juros, aqueles mais diretamente ligados à renda, como supermercados e artigos farmacêuticos, têm mostrado maior resiliência por conta do mercado de trabalho aquecido e dos salários em alta”, diz.

Apesar disso, ele avalia que a perda de tração recente também reflete uma acomodação após o desempenho mais forte no início do ano, somada aos efeitos da política monetária sobre o crédito e o consumo, aliado ao elevado endividamento das famílias.

Para Heliezer Jacob, economista do C6 Bank, a economia brasileira como um todo deve crescer menos em 2025 do que em 2024. “Essa desaceleração é reflexo dos juros mais altos, que tendem a desestimular os investimentos e impactar o consumo”, diz.

Projeções

De acordo com Perez, a resiliência do mercado de trabalho, a expansão da renda, as festas de fim de ano e as transferências do governo devem trazer algum alívio para o varejo até o final do ano.

Para 2026, ele avalia que o setor deve continuar influenciado pelo ambiente doméstico desafiador, mas tende a ganhar novo impulso diante da aprovação da reforma do Imposto de Renda, que ampliará a renda disponível das famílias e favorecerá uma retomada mais forte do consumo.

Para Benedito, os próximos meses devem ser de vendas moderadas no varejo, sustentadas por segmentos essenciais — como farmacêuticos —, mas limitado pelo enfraquecimento do consumo nos lares e pelo arrefecimento das vendas de combustíveis e duráveis. Ainda assim, a avaliação é de que o setor deve continuar contribuindo positivamente para a atividade, mas de forma mais contida.

Considerando os números do varejo, da indústria e dos serviços divulgados recentemente pelo IBGE, a avaliação do C6 Bank é de que o PIB tenha recuado 0,1% no 3º trimestre e feche 2025 com crescimento de 2% em relação ao ano passado.

Segundo o ASA, a projeção é de +0,2% para o PIB do 3T25 após a divulgação dos dados do IBGE. O PicPay mantém projeção do PIB em 2,2% para este ano.

A XP indica alta de 0,2% no terceiro trimestre, frente ao segundo trimestre (com ajuste sazonal) e alta de 1,7% na comparação anual. A projeção para o PIB de 2025 permanece em 2,1%.

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