A Cloudflare negou qualquer envolvimento com as autoridades brasileiras para restabelecer o bloqueio da rede social X no Brasil, contradizendo declarações feitas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) na semana passada. A informação foi confirmada pelo CEO da empresa, Matthew Prince, em entrevista à Bloomberg, conforme reportagem da Gazeta do Povo.
De acordo com Prince, a Cloudflare não colaborou com a rede social de Elon Musk para burlar a ordem de bloqueio imposta pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Ele também afirmou que a empresa não ajudou as autoridades brasileiras a seguir com o bloqueio. “Não sei do que as autoridades brasileiras estão falando. Não pretendemos especificamente com eles para bloquear o X ou disponibilizá-lo novamente no Brasil”, disse o executivo.
A declaração de Prince desmente a nota emitida pela Anatel no dia 18 de setembro, na qual a agência afirmou que contava com a colaboração da Cloudflare para seguir com o bloqueio à rede social no Brasil. A Anatel ainda não respondeu às novas informações reveladas pela Cloudflare, de acordo com a Gazeta do Povo.
O bloqueio ao X foi determinado por Moraes depois que a plataforma se recusou a nomear um representante legal no Brasil, como parte de uma investigação sobre Elon Musk. A rede social, no entanto, voltou a funcionar após uma atualização que utilizou um serviço de “proxy reverso” da Cloudflare, o que teria restabelecido o acesso dos brasileiros à plataforma. Em resposta, a Anatel enviou notificações a mais de 20 mil operadoras de telecomunicações, determinando o novo bloqueio da rede.
Disputa sobre censura e regulação
A decisão de bloquear o X gerou críticas dentro e fora do Brasil, com especialistas apontando que a ação do STF, liderada por Moraes, viola leis e abre precedentes para restrições de liberdade de expressão. Elon Musk, por sua vez, acusou o ministro de emitir “ordens ilegais” e denunciou o que chamou de interferência indevida nas eleições brasileiras de 2022 por meio de perfis censurados na rede social.
Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo ressaltaram que as decisões de Moraes expõem o Brasil ao “ridículo internacional”, questionando a legalidade e a proporcionalidade das ações do STF. A resistência do X em cumprir as determinações do tribunal tem intensificado o debate sobre censura, controle de plataformas digitais e os limites da regulação estatal.
Impasse tecnológico
A Cloudflare, uma gigante no setor de infraestrutura de internet, deixou claro que não teve participação direta nem com o X, nem com o governo brasileiro em relação ao bloqueio. Prince foi categórico ao afirmar que “não houve nada que o X nos pediu para fazer em termos de eliminar a capacidade do Brasil de bloquear o conteúdo dentro do Brasil, e não houve nada que fizemos para facilitar o bloqueio além do que já estavam fazendo”.
Essa divergência nas versões entre a Anatel e a Cloudflare levanta dúvidas sobre o nível de coordenação e comunicação entre as autoridades brasileiras e as empresas de tecnologia envolvidas no caso. Além disso, coloca em foco a fragilidade das estratégias de bloqueio implementadas pelo governo, que até o momento não conseguiu efetivamente impedir o acesso à rede social.
Repercussão e impactos futuros
O caso do bloqueio do X e a disputa entre Anatel, STF e Cloudflare tem gerado preocupações sobre a forma como o Brasil lida com a regulação de plataformas digitais e a liberdade de expressão online. Enquanto o governo argumenta que está defendendo a soberania digital e o cumprimento de leis locais, a maneira como as ordens de bloqueio têm sido executadas e a falta de transparência no processo chamam a atenção da comunidade internacional.
A postura da Cloudflare, ao se distanciar das ações de bloqueio, sugere que empresas de tecnologia podem começar a rever sua confiança no Brasil como um mercado estável para operações digitais. Com essa controvérsia, o governo brasileiro pode estar comprometendo seu relacionamento com grandes players do setor, além de prejudicar sua imagem no exterior como um país que respeita a liberdade digital.